sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Se eu fosse Deus

Se eu fosse Deus seria um tirano,
a nenhum mortal daria livre-arbítrio
Todos os pensamentos passariam pelo meu crivo
e apenas os aprovados habitariam as mentes

Pesaria os sentimentos em minha balança,
para os leves habitarem o coração dos homens
Forçaria o riso espontâneo e a lágrima de alegria
Nos rostos expressão de felicidade desenharia

Não haveria o abandonado e o nu,
nem quem tivesse mais que seu próximo
pois de tão próximos seriam um.

A única lei seria o amor entre os homens
Pois pensando bem, esse Deus que eu seria,
ao homem como ele é, não amaria.

Escrito por Marcos Siqueira em 22 de setembro de 2010.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

Rabiscos

Lindos rabiscos, uma vida inacabada
Rascunhos de um cotidiano sem valor
Prometem uma obra-prima gloriosa
De finos nuances e grandes realizações

Venha! Venha ligeiro terminar sua obra
É você, você que saiu de mim, se foi, fugiu
Deixou o lápis na mesa, o papel sedento de carícias
Rabiscos vivos, grandes promessas

De ódio trovejo ao abandono
E gritos surdos deixam meus lábios
Na esperança de encontrar meus ouvidos

E lá me vou ao longe, fugaz como de costume
Olhando-me com a melancolia dos abandonados
Deixando para trás lindos rabiscos

domingo, 4 de julho de 2010

Mais Cristo, menos Cristianismo

Mais Cristo, menos Cristianismo

Ed René Kivitz

Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo. O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais.

Cristo é maior que o Cristianismo. Por essa razão, a adoração a Cristo é mais importante que a defesa do Cristianismo, e a imitação de Cristo é mais importante que a adesão ao Cristianismo. Ser como Cristo e fazer mais por Cristo, eis as legítimas aspirações de todo aquele que se comprometeu com o caminho de Cristo.

Leia o artigo completo no Pavablog!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Insanidades cristãs

Hoje recebi de duas fontes distintas uma informação bizarra: abriu-se um sex shop gospel que vende produtos abençoados um a um por meio da oração do casal de proprietários. Acho lamentável o tino comercial do povo crente, que encontra um filão para ganhar dinheiro e ainda turbina seu negócio com um marketing espiritual cada vez mais bizarro. Pior ainda é a multidão gospel, afoita por novidades, que adere sem nem mesmo pensar no assunto com um mínimo de seriedade.

Não que eu tenha algo específico contra os sex shops. Eu simplesmente não sou consumidor de pornografia, mas conhecendo o mundo como vai, deve ser um negócio lucrativo. O que me espanta é a esperteza de se usar um rótulo evangélico e atingir um público totalmente alheio a qualquer bom-senso, que além de aderir à bobagem ainda fala mal do “ímpio” (nem tão ímpio assim), que freqüenta sex shops “não cristãos”. Afinal: “todos os nossos produtos foram abençoados e toda a maldição foi quebrada”! Dá vontade de mandar pra lá, não?

Que cristianismo é esse? Que droga é essa que estão dando para esses crentes que faz com que eles engulam tanta besteira com tamanha facilidade? É sex shop gospel, é pastor que dá testemunho que teve relações íntimas com demônios, é irmão que visitou o inferno e viu o diabo posando de carcereiro, é pastor preocupado em emburrecer as ovelhas para que elas continuem a prover o luxo de seu sustento. Que droga de evangelho é esse? Sou cristão, mas vendo essa porcaria que estão pregando por ai me sinto obrigado a concordar com Karl Marx... “a religião é o ópio do povo”. Aliás, tomo a liberdade de discordar somente na droga: a religião é o chá de trombeta do povo. Quem já tomou sabe do que estou falando.

Então, levantam-se do outro lado, empunhando a bandeira da santidade, os moralistas. Cristãos tradicionais, cheio de leis morais e regras de conduta, levantando a voz contra o cisco no olho do outro e em seu próprio tem dez traves. Grande parte envolvida em pecados ocultos, adultérios, mentiras, falsidades, falta de amor, politicagem religiosa e amor ao dinheiro. Basta se aproximar um pouco desses para que a verdade seja revelada. Então perdem a moral, pois as Boas-Novas não foram suficientes para transformá-los em pessoas semelhantes a Jesus, mas em pessoas como os fariseus. Cheios de aparência, sem nenhum conteúdo; ou pior, com conteúdo: carniça! Não sei qual postura dá mais nojo.

Então o mundo assiste de camarote essa demência coletiva que se tornou o cristianismo “gospelizado”. Somos escárnio, motivo de chacota em programas humorísticos, de piada em roda de amigos. E tudo com plena razão. De um modo geral os cristãos estão se tornando um bando de alienados, massa de manobras de pessoas mal-intencionadas, de empresários prá lá de espertos, de pastores que comem exclusivamente carne de ovelhas. E tudo isso com o rótulo gospel, abençoado pelas orações, e com um toque de missão evangelística. Acordem tolos, antes que seja tarde! Olhem para Jesus, para a sua obra, sua vida. Para a vida dos apóstolos. É tão difícil perceber que tem algo errado?

Esse desabafo eu termino com um lamento: se hoje eu não conhecesse Jesus e o evangelho, NUNCA, NUNCA me tornaria cristão pelo testemunho público da igreja. Preferiria zelar pela minha sanidade mental.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sobre Deus

Os seres humanos especulam a respeito de Deus há alguns milhares de anos. Eu, por ser também um humano, não me furtarei a fazer a mesma coisa. Entretanto, distante do dogmatismo típico de alguns setores religiosos, quero deixar claro que minha posição não passa de especulação, dessas assim feitas na mesa do bar, no ônibus ou sentado no vaso sanitário. Este pensamento me ocorreu enquanto navegava pela internet. A parte que fala sobre Kafka me ocorreu um pouco antes, durante uma palestra sobre o mesmo escritor, proferida pelo filósofo Benedito Nunes.

Me lembro bem que há algumas horas atrás eu frequentava um fórum de discussão virtual, no qual o assunto era a homossexualidade dentro da igreja cristã. Ou melhor, a aceitação da homossexualidade pela igreja cristã. Em outro fórum outras pessoas discutiam a respeito de interpretações do texto bíblico. Aparentemente, todos os usuários da internet possuem convicções autênticas diretamente reveladas por Deus. Alguns até fazem dEle as suas palavras, dizendo: “Deus não se agrada disso, Deus não se agrada daquilo”. Tais pessoas têm muita sorte por Deus não processá-las por uso indevido de imagem, difamação, ou simplesmente mandar chuva lá de cima até que todo mundo morra afogado.

Minha especulação sobre Deus não tem pretensões tão altas. Aparentemente não faço a menor ideia do que se passa pela cabeça dEle. E talvez não faça sequer ideia do que se passa pela minha própria cabeça.

Prossigamos.

Minha especulação diz respeito ao modo como Deus se relaciona com os seres humanos. Se a bíblia estiver certa, sabemos que Ele trava esse relacionamento através do Espírito Santo. O que não significa que sabemos de alguma coisa. Outros, mais ortodoxos e amantes da palavra escrita, confiarão à bíblia a tarefa de orientar os seres humanos, conjuntamente com o Espírito. Eu eliminaria a bíblia desta história, ou melhor, não a eliminaria, mas reduziria o seu papel, que me parece estar supervalorizado. A bíblia, sem o Espírito, não serve para muita coisa. São só palavras, e os livros não transformam ninguém.

Então temos o Espírito, além de uma primeira orientação do seu trabalho: se Ele atua através da bíblia, então o Espírito age em uma perspectiva intelectual. Não creio ser essa uma conclusão satisfatória. As operações intelectuais não transformam de todo as pessoas, é preciso de algo mais. De boas intenções o inferno está cheio. Existem muitos que compreendem a mensagem do amor, mas que não a colocam em prática. O Espírito precisa de uma segunda orientação para seu trabalho: a perspectiva da ação. O conhecimento intelectual e o conhecimento prático do evangelho são duas camadas que se sobrepõe mutuamente, se interpenetram.

Entretanto, o prisma intelectual é um engano. Muitos são os meios pelos quais os seres humanos “aprendem” a serem “bons”. Os instrumentos morais que a sociedade inventa, as leis, as instituições, tudo isso é prova de que o lado intelectual da coisa não funciona. É pura dissimulação. O homem impregnado de uma retórica que o protege da verdadeira finalidade: a prática. A receita do bolo sem que ninguém tenha a disposição para fazê-lo.

Definitivamente, minha especulação não compactua com a ideia de que Deus se relacione com os seres humanos através da intelectualidade. Intelectualidade no sentido de apreensão cultural, de utilização da linguagem. Exterminem os programas de teleproselitistas, mas Deus continuará agindo em nosso meio. Cortem as línguas de todos os cristãos, mas Deus continuará agindo em nosso meio. Queimem todas as bíblias, todos os livros que falem sobre o amor e coisas boas, e Ele continuará dando as caras.

Minha especulação, caro leitor, supõe que Deus não se relacione com os seres humanos através de linguagem. Não podemos compreendê-lo e apreendê-lo intelectualmente, racionalizá-lo, esquematizá-lo, nem em um ciência positivista e tampouco em uma ciência relativista e pós-moderna. Não existe ciência de Deus, no sentido de conhecimento sobre. Toda teologia é sobre homens, e não sobre deuses.

Não quero limitá-lo a acreditar que Deus é incapaz de relacionar-se conosco através de nosso intelecto. Até porque tudo em nós é intelecto. O que quero dizer é que este relacionamento é de outra ordem. Que chamem de absurdo, de inexprimível, indizível, mas palavra alguma poderá revelar Deus aos humanos. Nem palavras, nem qualquer outro tipo de linguagem. Ele é radicalmente distinto. Ele é Espírito, e como tal, age em nosso espírito, fomentando mudanças práticas e atitudes (como se pode constatar nas histórias dos evangelhos) e não mudanças intelectuais. Não é o crer, mas o fazer crendo.

Não sei até que ponto a crença é importante para o relacionamento com Deus, isso tudo permanece obscuro e faz doer meu cérebro ao tentar compreender. Como eu disse, minha especulação é justamente a da incompreensão do relacionamento com o divino.

Mas lembre-se: é apenas uma especulação.



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Existe um conto de Franz Kafka que é bastante conhecido, chamado Metamorfose, que já faz parte do cânone da literatura mundial. Nele, Gregor Samsa acorda metamorfoseado em um inseto, sem qualquer explicação aparente. Sua família, é claro, sente-se extremamente surpreendida com o fato. No desenrolar dos acontecimentos, Gregor Samsa vai gradativamente perdendo todos os laços afetivos com a família, até que esta não reconheça no inseto o filho que havia antes. Gregor acaba morto, varrido por uma empregada.

Há ainda outro conto de Kafka, um pouco menos famoso que o anterior, chamado Relatório para uma academia, no qual um macaco conta sua história desde o momento em que foi capturado na floresta até o momento em que escreve o tal relatório, contando todo o processo gradativo no qual se ajusta à sociedade humana, adquirindo diversos conhecimentos que o fazem um exemplar raro, híbrido entre animal selvagem e humano culto.

Em Metamorfose o que está sublinhado, pelo menos para mim, é o processo de desumanização de Gregor Samsa, até o momento em que ali já não existe um membro da família, mas somente um inseto. O tempo todo, porém, Gregor está consciente de sua situação de inseto. Seu intelecto ainda é humano. Para a família, porém, aos poucos Gregor perde a capacidade de se comunicar: sua voz transforma-se apenas em zumbidos animalescos, seus gestos corporais são apenas movimentos de inseto. Não há ponte que possa fazer a ligação entre ele e os demais seres humanos. Não existe linguagem capaz de fazer esta ponte.

Em Relatório para uma academia o que está sublinhado (repito: pelo menos para mim), é o processo de humanização do macaco. Sua lenta e gradual aquisição da linguagem humana, em uma luta travada tanto pelo macaco quanto pelos humanos que lhe serviram de mestres. Aquisição da linguagem verbal, gestual, escrita, comportamental. O macaco aprende a se comportar tal qual um humano, sem ignorar sua natureza de macaco. O que o faz dar este salto qualitativo, de macaco a humano, é a necessidade de uma saída. Uma saída que o desobrigasse das prisões destinadas aos animais, e o permitisse as “liberdades” destinadas aos homens. Este salto qualitativo, é claro, é o domínio da linguagem. A linguagem serve de ponte para que o macaco se humanize e se relacione com seus “semelhantes” a partir de então.

A linguagem não está no homem, mas o homem é que está na linguagem. A linguagem o domina, o utiliza. Gregor está inviabilizado para tal uso. Portanto, aos poucos deixa de ser reconhecido como humano, até que finalmente sua família o tem por completamente desumanizado. Apenas um inseto inconveniente e asqueroso. Já o macaco, através de um esforço enorme, salta da linguagem de primata para a complexa linguagem dos humanos.

Partindo disso, quero voltar para minha especulação a respeito de Deus.

A linguagem – principalmente nossas linguagens idiomáticas, que permitem a racionalização do conhecimento – é responsável pela quebra do relacionamento entre Deus e os homens. O momento em que tentamos compreendê-Lo é o mesmo momento em que Ele nos escapa. Quando tentamos transubstanciá-lo em versículos, liturgias ou preleções estamos apenas criando cultura. Estamos humanizando algo que é da ordem do divino, intelectualizando algo que é da ordem do espírito. Criando somente códigos simbólicos que não possuem valor algum, além do valor cultural/intelectual.

Uma vida cristã autêntica, segundo minha especulação, deve percorrer o caminho inverso daquele ensinado pela igreja, pela escola, pelas instituições. Não se parte de um conhecimento socialmente construído para uma vivência pautada nesse conhecimento. Não se aprende o bem para praticá-lo. Não. A vida cristã é de uma direção inversa. Deveremos ignorar, sempre que necessário, todo o conhecimento culturalmente adquirido, e partir para uma vivência pautada no relacionamento direto com Deus, sem mediações, através da própria imanência do Espírito em nós. Nossas ações guiadas através de Deus, tudo na ordem do indizível, inexprimível absurdo. Partindo desta vivência de mundo, iluminada pela divindade, é que construiríamos um repertório intelectual.

Em suma, não agir segundo a moral dura, repressiva e burra ensinada pela sociedade. Essa moral que é criada apenas para manter o funcionamento de todo um sistema de valores econômicos, políticos, religiosos, culturais etc. Não devemos agir segundo essa moral, que nos é imposta da sociedade e internalizada. Deveremos, sim, agir conforme a ética que surgirá do relacionamento entre os seres humanos. Ética que deve nascer do amor. Já não se trata de tratar o mendigo, o empresário ou o sacerdote conforme a moral, a etiqueta, o código cultural ensina. Mas sim de agir individualmente, conforme a ética criada na relação entre os indivíduos, pautando-se no amor para construir relações verdadeiras e afirmativas da potência da vida.



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É claro que esta é uma situação idealizada. Para que ela acontecesse, seria necessário que já nascêssemos conscientes de nosso relacionamento com Deus. O que não deixa de ser uma hipótese interessante: será que já não é inerente a todo ser humano tal relacionamento? Não com o Deus quadrado e restrito do cristianismo, mas com a noção geral de Deus, de força cósmica, de prática do bem e do amor.

O que também me agrada nesta especulação é a aniquilação do relacionamento com Deus mediado pelo conhecimento. Nunca simpatizei com um Deus erudito. Se o relacionamento não é racionalmente compreensível, então não se torna restrito para as pessoas com deficiências cognitivas e intelectuais. Quem disse que os autistas não se relacionam com Deus e vice-versa? Bem, sabemos que quem disse isso foi a própria Igreja...

Afinal, prosseguindo com o exemplo do autista, tal indivíduo pode não possuir a capacidade intelectual de compreender os dados do evangelho racionalmente. Ele não poderá pronunciar as palavras mágicas, não confessará Jesus como único senhor e salvador de sua vida. Está excluído, portanto, do povo remido pelo sangue, num fantástico golpe de marketing da teologia cristã em geral, centralizando o amor de Deus nas mãos dos detentores do código cultural. Mas pergunte a mãe de um autista do mais alto grau se ele é capaz de amar, e vejamos o que ela responderia. O amor não conhece as fronteiras da linguagem ou do intelecto, afinal ele é afirmação da vida, e a vida é imanente a todos os seres humanos (mesmo aqueles de comportamento condicionado pela moral social vigente, como eu). O relacionamento com Deus ultrapassa a necessidade da crença, da confissão da fé cristã. Entretanto, talvez não ultrapasse a necessidade da atitude, da prática cristã.

O problema todo começa quando passamos ao relacionamento propriamente dito. Sem receita de bolo nós, seres humanos, nos sentimos desamparados. A imanência direta de Deus nas nossas ações, a chamada prática do amor (seja ele cristão ou ateísta), requer um outro tipo de salto qualitativo, diferente daquele dado pelo macaco em direção à linguagem. É o salto em direção ao absurdo de Kierkegaard. O passo em direção a atitudes autênticas, não programadas racionalmente, atitudes de afirmação da vida (principalmente afirmação da vida do outro).

Viver este relacionamento é a parte mais fácil e mais difícil. Fácil porque, como eu e minhas especulações malucas diríamos, é bem razoável que a relação com Deus seja inerente ao ser humano. Essa capacidade de amar que todo mundo parece ter, nem que seja a de amar unicamente a própria vida. E difícil porque, para manter tal relacionamento, seria necessário que nós nos despíssemos aos poucos das mediações culturais e intelectuais que fazemos a todo o momento. Seria preciso respirar por um momento fora da cultura, ignorá-la. Esquecer da bíblia, dos evangelistas, dos poetas, dos hereges, dos amores, e deixar que somente a voz de Deus se sobressaia. A voz de Deus, obviamente, não é compreensível ao nível da linguagem, mas somente ao nível do corpo em ato, da prática, do fazer. Não é apropriado dizer “voz de Deus”, mas talvez seja mais como um comando, um impulso exercido sobre nós, por livre e espontânea vontade nossa. A permissividade do servo ao seu senhor. Assim como a permissividade do senhor em se revelar íntimo ao seu servo.

Vale dizer que não vejo este relacionamento com Deus como uma colocação mística, um transe espiritual. Espiritual sim, mas nem sempre um transe. O relacionamento com Deus é aquilo que nos coloca em experimentação direta com nosso próprio cotidiano; não pela ótica dos comportamentos determinados pela cultura e convenções sociais, mas sim pela ótica dos comportamentos autênticos, criativos e possibilitados pelo amor. Relacionar-se com Deus é relacionar-se com o mundo, com o outro e consigo próprio.

Espero não ter pronunciado nenhuma blasfêmia.

Saliento mais uma vez que isso tudo é apenas uma especulação. Como não sou nada espiritual, fico exercitando meu intelecto na tentativa de aprisionar Deus em algumas folhas de papel. Apesar de que nunca funciona.

Eu passarei. Eles passarão. Deus passarinha.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Matem os comentaristas

de Søren Kierkegaard, tradução por Walter Cruz


A massa atual de intérpretes da Bíblia tem prejudicado, mais do que ajudado, o nosso entendimento dela. Na leitura dos acadêmicos, tornou-se necessário agir como se faz em uma peça de teatro, onde a profusão de espectadores e luzes impede, por assim dizer, nosso prazer da peça em si e, no lugar disso, somos tratados como pequenos incômodos. Para ver a peça, temos de ignorar essas coisas, se for possível, ou entrar por um caminho que ainda não tenha sido bloqueado. O comentarista [da Bíblia] se tornou um intrometido dos mais perigosos.

Se você quer entender a Bíblia, certifique-se de lê-la sem um comentário. Pense em um casal apaixonado. Ela escreve uma carta para o seu amado. Ele estaria preocupado com o que os outros pensam dessa carta? Ele não a leria toda sozinho? Colocando em outra forma, nem passaria pela sua cabeça ler essa carta com um comentário! Se a carta de sua amada estivesse em uma linguagem que ele não compreendesse, então ele aprenderia essa linguagem, mas certamente não leria a carta com o auxílio de comentários. Eles seriam inúteis. O seu amor por sua amada e a sua disposição de cumprir seus desejos o tornariam mais capaz de entender sua carta. O mesmo se dá com a Escritura. Com a ajuda de Deus, podemos entender a Bíblia toda corretamente. Cada comentário retira algo, e aquele que se senta com dez comentários para ler as Escrituras estará provavelmente escrevendo o décimo-primeiro, mas certamente não estará lidando com as Escrituras.

Suponha agora que essa carta apaixonada tenha um atributo único: cada ser humano é alvo desse amor. E agora? Deveremos nos sentar e discutir o significado uns com os outros? Não, cada um de nós deveria ler essa carta individuamente, como se fora o único indivíduo que tivesse recebido essa carta de Deus. Na leitura, estaremos preocupados principalmente conosco e em nosso relacionamento com Ele. Não nos focaremos em detalhes como 'essa passagem pode ser interpretada dessa forma' e 'aquela passagem pode ser interpretada dessa outra forma', não! O importante para nós será agirmos o mais rápido possível.

Será que o amado não pode nos dar algo que nenhum comentarista pode? Pense nisso! Nós não somos os melhores intérpretes de nossas próprias palavras? Depois disso, [o melhor intérprete] é aquele que nos ama. E em relação a Deus, não seria o verdadeiro crente o Seu melhor intérprete? Não nos esqueçamos: as Escrituras são as placas de sinalização, Cristo é o caminho. Matem os comentaristas!

É claro, não são apenas os comentaristas que estão errados. Deus quer forçar cada um de nós a voltar ao essencial, para um início infantil. Porém não queremos estar nus dessa forma perante Deus. Todos preferimos os comentaristas. Assim, cada geração que passa fica ainda mais fraca.

O que realmente precisamos então é de uma reforma que coloque a própria Bíblia de lado. Sim, isso tem tanta validade agora quanto Lutero rompendo com o Papa. A ênfase atual em voltar à Bíblia tem, tristemente, criado religiosidade do aprendizado e dos sofismas literais – um desvio total. Esse conhecimento tem sido repassado de forma trágica para as massas de modo que ninguém mais pode tão-somente ler a Bíblia. Todo nosso aprendizado bíblico tornou-se uma fortaleza de desculpas e escapes. Quando se trata da vida, da obediência, sempre tem alguma coisa com a qual precisamos lidar primeiro. Vivemos sob a ilusão de ser necessária a interpretação correta ou termos uma crença perfeita, antes como pré-requisitos para começar a viver – isto é, usamos isso como desculpa para não fazer o que a Palavra diz.

Há muito tempo, a igreja tem precisado de um profeta que, em temor e tremor, tenha a coragem de proibir o povo de ler a Bíblia. Sou tentado, portanto, a fazer a seguinte proposta: recolhamos todas as Bíblias e as levemos a um lugar aberto ou a uma montanha e, então, enquando todos nós nos ajoelhamos, alguém fale com Deus desta forma: "Leve de volta esse livro. Nós, cristãos, não estamos aptos a nos envolver com tal coisa; ela somente nos torna orgulhosos e infelizes. Não estamos prontos para ela". Em outras palavras, eu sugiro que, como aqueles habitantes cujos porcos foram precipitados na água e morreram, imploremos a Cristo para "que deixe nossa vizinhança" (Mt. 8:34). Isso ao menos seria uma declaração honesta – algo muito diferente do erudicionismo nauseante e hipócrita que é tão comum hoje.

A questão toda é muito simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de vigaristas cheios de intrigas. Fingimos que somos incapazes de entender porque sabemos que, no mesmo instante em que entendermos, seremos obrigados a agir de acordo. Pegue quaisquer palavras do Novo Testamento e esqueça tudo, exceto comprometer-se a agir de acordo. Você dirá: "Meu Deus, se eu fizer isso, minha vida inteira será arruinada. Como eu poderia ser bem sucedido no mundo?"

Aqui reside o verdadeiro lugar da erudição cristã: a erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para se defender da Bíblia, para garantir que possamos continuar a ser bons cristãos sem nos aproximarmos demais da Bíblia. Oh, erudição preciosa, o que faríamos sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Sim, é mesmo horrível ficar a sós com o Novo Testamento.

Abro o Novo Testamento e leio: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e segue-me". Bom Deus, se nós realmente fizéssemos isso, todos os capitalistas, os legisladores e os empresários, de fato, toda a sociedade, seria composta de mendigos! Estaríamos afundados, não fosse a erudição cristã! Louvados sejam todos que trabalham para consolidar a reputação da erudição cristã, que ajudam a reprimir o Novo Testamento, esse livro confuso que nos desmontaria se fosse realmente livre (isto é, se a erudição cristã não o reprimisse).

A Bíblia ordena com autoridade em vão. Ela admoesta e implora em vão. Nós não a ouvimos – ou seja, nós ouvimos sua voz por intermédio da interfência da erudição cristã, os experts que foram apropriadamente treinados. Assim como um estrangeiro que protesta seus direitos em um idioma desconhecido não se importa em dizer palavras ousadas face a autoridades – mas, veja, o intérprete que traduz o que ele fala para as autoridades não se atreve a fazê-lo, mas substitui essas palavras por outras mais amenas – assim é a Bíblia lida pela ótica das interpretações cristãs.

Declaramos que a erudição cristã existe especificamente para nos ajudar a entender o Novo Testamento, de forma que possamos compreendê-lo melhor. Nenhum homem insano ou prisioneiro de Estado foi tão confinado quanto o Novo Testamento. Embora todos fiquem preocupados, ninguém nega que eles estão enclausurados, mas as preocupações em relação ao Novo Testamento são ainda maiores. Nós o enclausuramos, mas alegamos estar fazendo o oposto: que estamos muito ocupados ajudando o Novo Testamento a ter mais clareza e direção. Mas, é claro, nenhum maluco ou prisioneiro de Estado seria tão perigoso para nós como o Novo Testamento, se ele fosse livre.

É verdade que nós, protestantes, fizemos um grande esforço para que cada pessoa pudesse ter a Bíblia – mesmo na sua própria língua. Ah, mas que esforços nós tomamos para insistir junto a todos que ela pode ser entendida apenas por intermédio dos acadêmicos cristãos! Essa é a nossa situação atual. O que tenho tentado mostrar aqui é facilmente declarado: eu queria fazer as pessoas conscientes e admitir que acho o Novo Testamento muito fácil de compreender, mas, até agora, tenho achado tremendamente difícil agir de maneira literal sobre o que ele diz de forma tão clara. Eu talvez pudesse tomar uma outra direção e inventar um novo tipo de acadêmicos, trazendo à tona ainda mais um comentário, mas estou muito mais satisfeito com aquilo que eu tenho feito - fiz uma confissão sobre mim mesmo.

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domingo, 9 de maio de 2010

A Criaçomm

segunda-feira, 3 de maio de 2010

formspring.me

Perguntaí http://formspring.me/amaurialves

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Painel de José Régio

Sei que o luar era medonho, era amarelo, e que tudo isto me parece um pesadelo, e creio, talvez, que meu vago pensar me transporte para o momento mesmo em que, com tanta angústia, atravessei o portal que me separava da crua, fria e intensa realidade, daquele caminho cheio de pedras que nos leva da vagina maternal ao buraco na terra que maternalmente nos engole.

O que importa é o riso doido e cínico, sem regra, que subia em mim como uma onda negra, e, estrelados de lágrimas, meus olhos inocentes ajoelhavam ante os dois vultos desmedidos que me esmagavam, crescendo sempre, entre meus risos e gemidos, entre os quais me sentia pequeno e miserando.

Os dois homens se portavam um a cada lado meu, sem que me atrevesse a olhá-los, apenas adivinhava-os e pressentia-os, um dos quais de vestes brancas e limpas, a face reluzente de anjo de luz, o olhar plácido e cativante, as meigas palavras, as doces lágrimas, as promessas, as mãos eclesiásticas e macias que provavelmente beijei, como que para pedir a benção, todo trêmulo e confuso, cheio de amor e de terror por esse intruso.

O outro, figura peregrina, com olhar profundo, mãos grossas e sujas, aroma doce de bálsamo disfarçando o odor fétido do corpo suado e do sangue derramado, porventura culpado de derramar muito sangue, sua face despida de qualquer beleza ou encanto, suas promessas desprovidas de qualquer sedução, diante do qual me postei de pé, como que insultado pela afronta da presença de tal moribundo, que despertava em minha memória vozes funestas que advertiam: carrega tua cruz!

E como eu não o fizesse, o desgraçado em afronta ainda maior tomou todo o jugo do meu fardo sobre seus próprios ombros. E pus-me a segui-lo.

Ou melhor, dispus-me a segui-lo, entretanto sem nunca tê-lo feito.

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Este texto faz alusão ao poema Painel, do português José Régio.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Você conversa com Deus? O que Ele lhe diz?

Deus tá me falando pra eu parar de responder perguntas bobas. As perguntas idiotas sobre Deus e o sexo dos anjos, enviadas por religiosos que não têm o que fazer, assim como por pseudoateus que acreditam mais em Deus do que os crentes, não serão mais respondidas até "segunda ordem" (ordens de Deus???)

Perguntaí

Quantos bits descrevem Deus?

Pergunta muito nerd pra mim. Tô passando...

Perguntaí

Se é pecador, então vai para o inferno?

Como eu posso saber? Não sou Deus.

Perguntaí

Você é pecador?

Caraca, as perguntas estão cada vez melhores... Claro que sou...

Perguntaí

terça-feira, 6 de abril de 2010

Orkontro Nacional da Igrejas Alternativas


Felipe esteve presente Espiritualmente dentro de um copo cerveja, todos nós podemos sentir isso em certo momento do encontro...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ser Cristão é...


Ser cristão é viver constantemente a sensação de ter chegado no fim da festa. É ter em suas mãos as cinzas de algo outrora glorioso. É ter a percepção do quanto destruíram um ideal maravilhoso; de que as palavras do Deus encarnado não significaram nada, e que Ele ainda é linchado e crucificado todos os dias pelos seus fiéis. É ter que se explicar diante do mundo, que vê o cristianismo como uma religião bélica e te interpreta como mais um dos seus ensandecidos seguidores. É ver dia após dia outros cristãos destruírem tudo o que você ama e valoriza - toda a reputação, toda a história, todos os ensinamentos do cristianismo com suas liturgias mortas, sua pregação televisiva e a busca incessante de cada cristão pelo próprio bem estar e conforto material.

Ser cristão é trabalhar em vão e ver o frutos das árvores más prosperarem. É congregar com outros cristãos mas ainda assim estar completamente sozinho, porque simplesmente ninguém se interessa pelo cristianismo. É ser ridicularizado pelos próprios cristãos ao propor que se siga o sermão da montanha de Jesus.

Ser cristão é saber que você nasceu num mundo onde é quase impossível ser plenamente cristão, onde cada bem de consumo tem uma macabra e obscura origem. É se defender contra seus inimigos mesmo contra sua própria vontade, através da força do Estado. É comer, vestir-se e trabalhar sabendo que suas mãos estão sujas de sangue de gente que pode estar do outro lado do planeta. É comer ovo de chocolate no feriado em comemoração pela morte do ídolo Jesus, ou participar de orgias e glutonarias no seu aniversário. É não ter a menor piedade de crianças que vivem como animais nas ruas, e mesmo assim denominar os não cristãos como ímpios. É ceder continuamente às tentações expostas por todas as mídias por toda a parte. É conseguir seguir um preceito cristão a cada nove preceitos cristãos violados. É lutar em vão contra os outros e contra você mesmo todos os dias.

Ser cristão é ter a plena consciência de que você não é cristão.

Acho que o mais próximo do cristianismo original a que podemos chegar hoje em dia, é odiar a igreja, os cristãos e a si próprio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O futuro dos cirstãos - shofar, so good.

Daqui algum tempo, alguns membros de certas correntes cristãs judaizantes estarão deste jeito:

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Igrejas são reality shows

O fato de um sujeito como eu assumir que possui o hábito de assistir Big Brother Brasil 10 é constrangedor, mas terei que fazê-lo para dar início a este texto. Admito que BBB 10 seja fútil, medíocre, entretenimento barato, apelação gritante. E é por isso que eu gosto tanto de assisti-lo. Nem tanto por aquelas bundas maravilhosas de fio dental, mas sim porque me divirto de forma sensacional vendo um grupo de pessoas mostrando aquilo que de mais perverso (e ao mesmo tempo mais típico) pode existir no ser humano: o egoísmo.

E é por isso que afirmo, neste texto e para fins didáticos, que as igrejas são reality shows como o BBB. Igrejas talvez sejam o antro mais antigo do egoísmo que perdura na superfície da Terra. Onde houver religião, haverá seres humanos egoístas. A religião está diretamente vinculada ao princípio da punição e recompensa (mesmo que na além vida), e é por isso que se vincula ao egoísmo: no fundo, o que todos querem é salvar a própria pele. É evidente que Jesus propõe uma lógica radicalmente distinta (a graça como favor imerecido dado por Deus, ao mesmo tempo que institui a exigente lei do amor), mas não vamos entrar em detalhes.

Quando vejo um programa como o BBB, é óbvio que não estou vendo pessoas, mas personagens. Personagens calcados em pessoas, mas editados, cortados, manipulados, transformados em imagem, subvertidos, expandidos, recalcados e maquiados. Mas nem por isso a existência dentro da casa deixa de ser real e torna-se uma atuação. Não existe atuação no sentido de predeterminação de um roteiro. As coisas simplesmente vão acontecendo, de acordo com os caminhos trilhados pelos personagens reais. E é neste ponto que o egoísmo entra em cena: o BBB pressupõe um vencedor, dado seu caráter de jogo. Todos ali buscam uma recompensa, mas ao mesmo tempo precisam forçosamente esquecer que fazem parte de um jogo. Ou melhor, aparentar este esquecimento e assumir um “jogar com o coração”, já que a permanência dos mesmos no jogo só existe na medida em que são aceitos pelo público. Ou seja, na medida em que seus personagens tornam-se convincentes, e são recompensados pelo público com mais uma semana de permanência naquela boa vida.

As igrejas seguem uma lógica aproximada. Os personagens estão ali, e assim como os do BBB, estes também constroem sua cena, sua narrativa, partindo da imprevisibilidade das situações reais. Cada jogador, também chamado de irmão (à semelhança de brother), busca sua(s) recompensa(s): desde a vida eterna até desejos mesquinhos como o reconhecimento passageiro. No BBB a lógica do jogo requer que os irmãos sejam eliminados um a um. Na igreja a lógica do jogo pressupõe que novos brotheres sejam convertidos, gerando prestígio para a casa que mais frutifica. No BBB, os personagens disputam sua recompensa tendo que simular a ausência desta disputa: não podem deixar seu egoísmo transparecer, sob o risco da punição dos olhares vigilantes uns dos outros, e também dos olhares do público. Na igreja, os personagens buscam cada qual sua própria recompensa, tendo que simular igualmente a ausência desta disputa, e ainda cometer hipocrisia maior: fingir que estão destituídos de qualquer egoísmo e que estão movidos pelo amor a Deus e ao próximo. E não deixam transparecer seu egoísmo com ainda maior afinco: é preciso que seus personagens, além de serem convincentes uns aos outros, convençam igualmente a si próprios, já que o reconhecimento do próprio egoísmo poderia colocar tudo a perder.

Nisto, os brotheres só não convencem a Deus, que tudo vê, mesmo aquilo que está em secreto. Resta saber se Deus está ainda disposto a recompensá-los no decorrer ou ao final do programa (já que seu favor é imerecido), mesmo sabendo que a exigente lei do amor foi substituída pela onipresente lei do egoísmo.

***

Eis que me ocorre que, apesar de me sentir liberto da vigilância da igreja, olho para minha própria existência e comprovo, com pesar, que no fundo nunca deixei de ser apenas um personagem. O reality show expandiu seus limites: das paredes do templo para as fronteiras da vida. Sela lá onde estiver, percebo que continuarei simulando um personagem, buscando minha(s) recompensa(s), convicto das minhas próprias boas intenções, ocultando todo e qualquer resquício do meu egoísmo.

Descubro, talvez tarde demais para um recomeço, que não eram as câmeras que moldavam meu egoísmo, mas sim meu egoísmo que instalava câmeras para que o tempo todo eu mesmo (ou meu personagem) estivesse sob os holofotes.

Percebo, talvez até com maior atraso, que ser cristão é de fato uma opção bastante inglória: ao invés de amarmos uns aos outros até o ponto de oferecermos nossa própria vida pelo próximo, o máximo que nosso egoísmo permite é que ofereçamos – num movimento contínuo – a morte de Cristo pela vida daqueles que nós deveríamos amar. E Cristo, como ovelha muda, continua morrendo dia após dia.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

No amor não existe medo (por Assir Pereira)

Nosso tempo é marcado pela insegurança e pela incerteza. A violência nos é apresentada, a cada dia, com novos coloridos e contornos. É a violência nas ruas, nos lares e nos estádios. Sofremos, a cada minuto, agressões de todos os tipos e naturezas. Agressões físicas, morais, espirituais.
Somos agredidos na nossa liberdade. Nossa intimidade é invadida e vasculhada pela televisão agressora. A unidade da família é ameaçada pela sociedade capitalista que nos leva ao consumismo, obrigando cada membro da família a auxiliar na busca do sustento e da sobrevivência. A distribuição injusta das riquezas, com poucos tendo muito e muitos não tendo nada, violenta a dignidade do mais pobre, que se vê só, abandonado e sem proteção. A criança, mesmo tendo recebido um “ano internacional” só para ela, continua ainda sua via crucis. Ela é agredida na sua formação. A delinquência juvenil cresce. As crianças abandonadas se multiplicam. Febem, Cetrem, albergues e abrigos não comportam a demanda dos que deles dependem. Os que são recebidos por esses órgãos são tratados com descaso e desamor.
A criminalidade e a marginalidade crescem assustadoramente. Uma em cada dez pessoas sofre algum tipo de violência diariamente em São Paulo. A natureza é violentada e na guerra ecológica está sempre no vermelho.
O trânsito mata. O trombadinha mata. A poluição mata. A falta de segurança no trabalho mata. Por uma palavra a mais ou a menos o homem, nesta conturbada cidade, mata. A imprensa e muitas vezes até o púlpito ensina: “Desconfie de todos”.
Esta é a civilização do medo. Ninguém está seguro. O futuro parece sombrio e incógnito. Sofremos uma crise de amor. Vivemos uma inflação de auto-amor. O amor que deveria ser dado ao próximo tem sido desviado para alimentar nosso egoísmo. Temos nos esquecido de que esse é um amor roubado. Na ordem natural de Deus, esse amor deveria ser dado ao outro.
Nosso culto por causa dessa ótica distorcida tem caído apenas na verticalidade. Vou ao templo para adorar a Deus. Minha adoração tem sido solitária, e não solidária. Temos nos esquecido de trazer a comunidade inteira à luz de Deus.
A verdadeira adoração ao Senhor é aquela que não exclui o meu irmão. Não existe amor a Deus sem amor ao outro, ao pobre, ao abandonado, ao nu, ao rico, ao branco, ao negro.
Só este culto restaurará o homem. Só este amor criará o novo homem e a nova humanidade. Para João, só neste amor ficarei livre do medo (I João 4:18a).

Fonte: PEREIRA, Assir. Homem, onde estás?: igreja aqui e agora. São Paulo: WVC, 2000. pp. 39-40).

Não sei quem é Assir Pereira, mas concordo com o que ele disse.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Que mentira!



Uma pessoa comum mente 4 vezes ao dia, e 1460 vezes ao ano. Aos seis anos, uma pessoa já mentiu cerca de 88 mil vezes.



A mentira mais comum é
"Tá tudo bem comigo".


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Verdades espirituais

Tenho me perguntado se, afinal, existem verdades “morais” inerentes a todos os seres humanos, assim como existem verdades científicas. Temos que respirar, comer e dormir, independente de sermos budistas, ateus, mexicanos, holandeses, homens ou mulheres. Não existe “certo ou errado” em respirar, assim como não existe “certo ou errado” em dizer que mamíferos mamam. Simplesmente são verdades científicas, que posteriormente podem ser derrubadas por outras verdades ainda mais cientificamente verdadeiras que estas.


Mas minha dúvida não tem a ver com ciência, e sim com a existência pressuposta de um tipo de verdade que não é científica, mas, digamos, espiritual. Por espiritual quero dizer relativo à moral, aos deveres do ser humano para com seus semelhantes e para consigo. Traçando um paralelo com a ciência, ouso afirmar que não estamos lidando com o bem ou o mal, mas com a própria natureza humana, ou aquilo a que esta natureza se inclina a ser. Não sei bem se a natureza humana se inclina para algum tipo de verdade espiritual, já que parecemos ser todos imorais e injustos, mas talvez seja esta natureza mesma a nossa. Nossa verdade espiritual pode ser totalmente imoral (segundo nossos padrões morais estabelecidos, mas nunca cumpridos). São quase dez da noite e este último parágrafo me deixou completamente confuso, mas vou tentar prosseguir.

O que me pergunto, afinal, é se Jesus Cristo, que creio ser a manifestação máxima de Deus aos homens, portava e ensinava essas verdades espirituais, que também se manifestaram em outros grandes vultos históricos. É claro, é de um vigor impensável despir a figura de Cristo, e de tantos outros, de todas as camadas mitológicas que vão se sobrepondo com o decorrer dos anos e dos discursos. E é justamente por isso que me indago a respeito de verdades espirituais. Para conhecer verdadeiramente a Cristo, portanto, não seria preciso escavar na história, na teologia ou na filosofia, bastaria encarnar as verdades espirituais que Ele professava.

Se as coisas realmente são desta maneira, a religião torna-se relativizada, assim como a pessoa-imagem de Cristo, não sendo acessível somente através de um conhecimento da verdade, uma gnose, mas tão somente através de uma manifestação de características indissociáveis do próprio ser humano (as tais verdades espirituais). Agora isso já não me cheira tão bem... Se são verdades espirituais, típicas do ser humano, por que tantos se desviariam daquilo que lhes é mais intrínseco? Corro o risco de acabar mergulhado na velha dualidade grega “corpo versus alma”, “matéria versus espírito”. Definitivamente não pretendo colocar a culpa nas nossas pulsões carnais. A rigor, até onde sei, o ser humano é matéria. É provável que ele possua algo além, algo que denominamos alma ou espírito, mas não sei se esse espírito pode ser separado da matéria. E a Bíblia não parece indicar que espírito e corpo possam andar separados.

Porém, voltando à minha dúvida, verdades espirituais corresponderiam aquilo que muitos chamam de humanidade, no sentido de complacência, compaixão. Este termo, claro, exclui outros animais da possibilidade de sentir e agir de maneira solidária com outros, da sua espécie ou não. Mas não vem ao caso. O que eu quero saber é por que diabos as pessoas, algumas vezes, cometem “burrices” (em uma perspectiva evolucionista e de sobrevivência da espécie), pois frequentemente elas abrem mão de seu próprio bem-estar e decidem correr riscos em nome da compaixão que sentem pelo outro, naquilo que denominamos “ajudar”. É essa espécie de instinto cooperativo que penso fazer parte desse repertório de verdades espirituais. Quando sentimos a dor pelo outro e tomamos o seu sofrimento para nós, me parece que estamos “praticando” estas verdades. A bondade, portanto, seria uma destas verdades. Reconheço, entretanto, que todos os adjetivos que possamos criar (bondade, amor, compaixão, solidariedade) parecem mais tipos ideais, inalcançáveis, permanecendo o ser humano na oscilação da incapacidade de ser ideal ou perfeito.

Claro, se afirmarmos a existência de verdades espirituais inerentes ao ser humano estaremos abalando as nossas próprias concepções religiosas. Concepções estas que se baseiam na posse de um algo especial: fazer parte do povo eleito, estar na religião certa, seguir a sã doutrina. Não, verdades espirituais do tipo que desconfio existir não se prestariam a tais exclusões. Elas seriam universais, e independeriam de cultura, manifestando-se mesmo em todas as pessoas, nas mais diversas situações, podendo ser reprimidas, castradas ou manifestas e multiplicadas.

O termo “verdade” é até inadequado. Considero mais como “tendências espirituais”, uma espécie de propensão a manifestar a “humanidade” que Deus pôs em cada um de nós.

O óbvio é que o amor seria a principal tendência espiritual. O paradoxo é que nós sempre iremos reprimi-lo (ou melhor, não cumprimos a lei do amor, mas nunca chegamos a substituí-la). Nossa natureza, ao que parece, é antiamorosa, antissolidária, individualista. Mas em poucos momentos deixamos vir à tona esta tendência ao amor. Deve ser por isso que Cristo propôs uma disciplina séria para que seus discípulos o seguissem: abandonar a si mesmo, não querendo salvar-se. Ele provavelmente sabia do que estava falando. Eu, no entanto, não posso dizer o mesmo a meu respeito...

Com João ouso dizer que Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus (I João 4:16). Seria o amor uma tendência espiritual, que foi manifesta em Gandhi, em Betinho, em Madre Teresa, em Maomé? Um ser humano, ao praticar o amor, aproxima-se de Deus e permanece nele, a ponto de estar conhecendo-o?

Nesse caso, não faz sentido preocupar-se com salvação, conversão (à religião), sectarização, pois a fé, quando trazida para o campo do social, já demonstrou ser capaz de articular hecatombes e desastres de todo tipo. E até mesmo porque Jesus Cristo já falou que o Reino está em nós. Cumpre que deixemos este Reino se manifestar o quanto antes.

Bem, não sei mesmo se as tais tendências espirituais existem, mas não consigo crer em um Deus que se deixe pertencer a apenas alguns, por conta da posse do laço sanguíneo (Israel), do livro (Bíblia) ou do credo (cristianismo). Deus, em minha opinião, tem que estar em todos, em tudo, manifesto na plenitude de seu ser porque, afinal, Ele é Deus. Pode parecer um esforço exagerado da minha parte em tentar moldar Deus conforme minhas concepções, mas posso assegurá-los de que todas as outras concepções têm o mesmo valor que a minha, ou seja, absolutamente valor algum. Deus é incompreensível ao homem, e tudo que falamos, fazemos e pensamos a seu respeito são apenas especulações. O homem moldando Deus a sua imagem e semelhança.

Você entendeu o que eu quis dizer? Nem eu.

sábado, 23 de janeiro de 2010

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Pastor americano diz que Haiti paga por pacto com o diabo





O Haiti, arrasado por um terremoto de 7 graus na escala Richter na última terça-feira (12), paga por ter feito um pacto com o diabo há 200 anos. É o que diz Pat Robertson, pastor pentecostal que já foi pré-candidado republicano à Presidência dos Estados Unidos (em 1988) e é muito conhecido entre os norte-americanos por declarações polêmicas em seus programas evangélicos na TV.

Robertson já chegou a dizer que o presidente venezuelano Hugo Chávez deveria ser assassinado, que a doença do ex-primeiro ministro israelense Ariel Sharon era um "castigo divino" e que as feministas ainda iriam queimar os próprios filhos na rua e viver de feitiçaria.

Em todas essas vezes, o pastor foi obviamente condenado pela opinião pública. Agora ele resolveu aparecer novamente de forma vexatória na mídia mundial. Em programa no canal Christian Broadcasting Network, Robertson contou uma história maluca sobre a independência do Haiti, ocorrida em 1791 - depois dos Estados Unidos, o Haiti foi o segundo país das Américas a se declarar independente. Os escravos haitianos, vindos da África e praticantes de vodu, teriam feito um pacto com o demônio para se libertarem da França, segundo o pastor.

"Algo aconteceu há muito tempo no Haiti e as pessoas talvez não queriam falar sobre isso. Eles estavam sob domínio francês, no reinado de Napoleão III, e fizeram um pacto com o diabo. Disseram: 'Vamos servi-lo se nos libertar do Príncipe'. É uma história verdadeira. E o diabo disse: 'Ok, está combinado'. E os franceses foram expulsos. Os haitianos revoltaram-se e conseguiram libertar-se. Mas, desde então, foram amaldiçoados", declarou Robertson. Para ele, com a tragédia, "é hora dos haitianos se curvarem a Deus".

A reação foi imediata. O embaixador do Haiti nos Estados Unidos, Raymond Joseph, disse num programa da rede NBC que Robertson deveria se envergonhar e lembrou que a independência do Haiti encorajou uma série de outros países latino-americanos a fazerem o mesmo, inclusive o Brasil.

Dando uma aula de história ao pastor, Joseph lembrou ainda que os Estados Unidos também se beneficiaram da revolta no Haiti, já que depois desse evento a França cedeu a Louisiana por US$ 15 milhões na época (1803). "Isso equivale a três centavos por acre", disse o embaixador haitiano.

Retirado de Yahoo! Notícias

COMENTÁRIOS: SEM COMENTÁRIOS (pastorzinho de merda, viu...)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os justos evangélicos

Hoje acabei encontrando essa pérola na net. Na margem inferior tinha um nome de banda, ou ministério, que eu cortei porque o objetivo aqui não é atacar alguém, especificamente.
A frase é a releitura de um versículo no referido Salmo. O salmo fala sobre o "destino dos ímpios", e no final, após Davi rogar todas essas maldições aos seus inimigos, completa dizendo

"[...]Alegrar-se-á o justo quando vir a vingança; banhará os pés no sangue do ímpio. Então se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo; há um Deus, com efeito, que julga na terra."

Essa imagem mostra a visão deturpada e anticristã impregnada no caos pós moderno que é o universo protestante. Existem dois motivos para que os coniventes com essa visão rasguem as palavras do Cristo que dizem seguir.
O primeiro motivo é a aceitação da doutrina sem fundamento da inerrância bíblica. Nessa visão bíblica deturpada do protestantismo tupiniquim, qualquer exaltação e desejo carnal de um personagem bíblico ou as conquistas bélicas dos hebreus são valorizadas e santificadas como exemplo a ser seguido, mesmo que apenas como metáfora. Não é preciso discutir aqui o fato dos evangélicos em geral terem aversão aos ensinamentos "radicais e fundamentalistas" de Jesus. No cristianismo evangélico, Jesus tem função ornamental.
O segundo motivo é derivado do primeiro: os evangélicos em geral interpretam de maneira literal (na verdade eles interpretam qualquer coisa como literal, na Bíblia) o trecho em que se diz que nós cristãos somos filhos de abraão. Por isso, o evangélico se sente mais JUSTO que os não-evangélicos, e mais uma vez joga no lixo a declaração (ou citação) de Jesus: "Não há um justo sequer."

O conceito de Justiça

Nas histórias do Antigo Testamento, enquadrava-se como ímpio qualquer um que não seguisse a lei dos judeus; assassinos, ladrões, corruptos, idólatras. Os que seguiam as regras do jogo, ou o conjunto de práticas e valores aceitáveis pela maioria conhecido como MORAL eram denominados justos.
Esse sentimento de superioridade moral fazia Jesus perder a paciência com a elite religiosa judaica, e atualmente ainda existe no meio cristão.
O salmo em si, na verdade, é de certa forma bastante ingênuo; não só por achar que há justiça nesse mundo, mas porque qualquer pessoa que queira dizer a Deus como Ele deve agir é ingênua. Ao contrário do que diz Davi no salmo, a injustiça prevalece no nosso mundo desde o sangue derramado de Abel. Há recompensa para o justo (ainda neste mundo)? Digam isso para os profetas do velho testamento ridicularizados e mortos. Diga isso para os mártires cristãos, diga isso para Jesus, que antes de ser crucificado andava pela palestina dizendo "Este mundo jaz no maligno." Não há justiça nesse mundo, e por isso Jesus nos ensina a superar o conceito de justiça; a dar a outra face ao invés de revidar. Todo o cristianismo se baseia numa recompensa após a morte; (até mesmo para os que têm fome e sede de justiça) mas o evangelho hedonista em vigor atualmente só prega conforto material; e ver esse rebanho de cegos guiando cegos no caminho da violência, da intolerância e do fanatismo usando o nome do mesmo Jesus que condenava tudo isso me faz pensar mais uma vez que ainda não há justiça nesse mundo.
Jesus veio para dizer que não há bom ou mau, e que não há quem precise mais ou quem precise menos da salvação Nele. Curiosamente, os únicos com quem Jesus perdeu a paciência, chamou de filhos do inferno, sepulcros caiados e recomendou o suicídio foram os da elite religiosa.
Jesus preferia andar com bêbados, prostitutas e ladrões do que com esse tipo de gente nojenta, o tipo de gente que se acha superior.
Aprendam o que significa "misericórdia quero e não holocaustos", seus crentes imbecis espalhados pelo Brasil. Pelo menos uma vez na vida meditem nas palavras de Jesus, vocês que falsamente dizem o seguir. Vocês que querem que Deus arranque os dentes dos "maus", busquem outra religião, porque o Deus de Jesus e nosso Pai não se submete aos caprichos da mesquinharia humana.

Assim disse Jesus,  pra quem não sabe:

"Foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu te digo: não revide a quem te faz mal. Ao contrário, ofereça a outra face" (Mateus,5:38/39)

"Evite discussões inúteis. Ao que quiser discutir contigo, dê-lhe a razão, mesmo que ele não a tenha" (Mateus, 5-40)

"Se alguém te obriga a fazer o que não quer, ainda assim faça com alegria a tarefa imposta" (Mateus 5-41)

"Sempre dê a quem te pedir e não negue a quem te pedir emprestado" (Mateus,5-42)

"Foi dito: Ame o teu próximo e poderá odiar teu inimigo.Eu digo: ame seus inimigos, faça bem a quem te odeia" (Mateus, 5-43,44)

"Ore pelos que vos maltratam e perseguem". (Mateus,5-45)

"Se amarem apenas os que os amam, que recompensa terão?" (Mateus, 5-46)

"Se saudarem somente os seus irmãos, que fazeis demais?" (Mateus 5-47)

"Sejam perfeitos, como é perfeito o Pai Celestial" (Mateus, 5-48)

"Façam boas ações longe dos olhos dos homens. Quem busca ser honrado pelos homens, não será honrado por Deus" (Mateus, 6-1)

Quando der esmola, não chame a atenção como fazem os hipócritas nos templos e nas ruas" (Mateus, 6-2)

"Quem faz caridade para ser glorificado pelos homens, já recebeu a sua recompensa. Não precisa de recompensa de Deus" (Mateus 6-2)

"Quando fizer caridade, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita" (Mateus 6-3)

"Teu Pai, que vê em secreto a tua caridade, te recompensará publicamente" (Mateus 6-4).

"Quando orar, não aja como os hipócritas; que gostam de orar em pé nos templos para serem notados pelas outras pessoas" (Mateus 6-5)

"Aqueles que querem ser admirados pela santidade, cantando louvores e orando pelas ruas, já receberam a sua recompensa" (Mateus 6-5)

"Quando orar, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai em segredo" (Mateus 6-6)

"Teu Pai, que tudo vê em segredo, te recompensará publicamente" (Mateus 6-6).

"Ao orar, não repita as palavras sem refletir sobre o sentido delas" (Mateus 6-7)

"Há quem ore muito, acreditando que apenas pelo seu muito falar serão ouvidos" (Mateus 6-7).

"Não imite aos que se dedicam a orar muito nos templos ou cantar louvores e orar pelas ruas para serem vistos pelos homens" (Mateus 6-8)

"Seu Pai sabe o que você necessita, antes mesmo que você o peça alguma coisa" (Mateus 6-8)

"Orem o Pai Nosso, a oração que eu os ensinei" (Mateus 6-9)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Por Júlia Bárány Yaari

Veio como uma criança indefesa, outros dizem que é lenda.
Há dois mil anos falamos dele. Ele mudou o mundo e cada um de nós, mesmo que não tenhamos consciência disso.
É a figura histórica a respeito de quem mais se escreveu, mais se inquiriu. As divergências na compreensão de seus ensinamentos já existiam entre os próprios apóstolos, antes mesmo de sua partida. Embora suas palavras, registradas por seus seguidores conforme se lembravam delas no mínimo trinta anos depois de sua morte, sejam simples, transmitindo conceitos básicos repetidos de diversas formas, o entendimento não é fácil, pois supõe uma mudança interior.
Ele usou discurso direto com os mais íntimos, mas com o povo falava por parábolas, como se faz com criancinhas que aprendem por meio dos contos de fadas e histórias.
Os documentos históricos e os registros de seus ensinamentos passam periodicamente por depurações e reformulações, na busca da verdade. Diferentes grupos disputam o reconhecimento como detentores das palavras autênticas dele. Artistas têm procurado esta verdade por meio da música, da pintura, da escultura, da literatura, cada obra sendo uma interpretação pessoal do autor.
Cada um projeta o seu Jesus com as características que lhe dizem aquilo que deseja ouvir. Instalam-se os estereótipos. Manifestam-se os ideais, as aspirações, os anseios.
Passamos a duvidar se é possível chegar aos fatos incontestáveis sobre sua vida, descobrir as palavras que ele de fato proferiu. Se é possível escavar através de camadas e camadas de interpolações, interpretações, encobrimentos, descobrimentos, interesses mundanos, ou simplesmente da ignorância e fraqueza dos seres humanos que promoveram guerras e cometeram atrocidades em seu nome. Se é possível encontrá-lo livre dos dogmas, não engessado em instituições que manipulam as pessoas para firmar seu poder.
Onde encontrá-lo?
Cada um que procura o seu Jesus o encontra dentro de si mesmo.
E nessa multiplicidade de seres ele se esparrama como chuva de estrelas, cada uma com seu brilho próprio, feitas, no entanto, todas da mesma essência de luz. Qual é mais verdadeira que as outras? Na obra aberta, como é a obra de Jesus, a maravilha é que todas são verdadeiras.
(...)




Fonte: Prefácio de Júlia Bárány Yaari para Yeshuah.
FERREIRA, Laudo. Yeshuah: assim em cima assim embaixo. São Paulo: Devir, 2009.