quinta-feira, 29 de abril de 2010

Painel de José Régio

Sei que o luar era medonho, era amarelo, e que tudo isto me parece um pesadelo, e creio, talvez, que meu vago pensar me transporte para o momento mesmo em que, com tanta angústia, atravessei o portal que me separava da crua, fria e intensa realidade, daquele caminho cheio de pedras que nos leva da vagina maternal ao buraco na terra que maternalmente nos engole.

O que importa é o riso doido e cínico, sem regra, que subia em mim como uma onda negra, e, estrelados de lágrimas, meus olhos inocentes ajoelhavam ante os dois vultos desmedidos que me esmagavam, crescendo sempre, entre meus risos e gemidos, entre os quais me sentia pequeno e miserando.

Os dois homens se portavam um a cada lado meu, sem que me atrevesse a olhá-los, apenas adivinhava-os e pressentia-os, um dos quais de vestes brancas e limpas, a face reluzente de anjo de luz, o olhar plácido e cativante, as meigas palavras, as doces lágrimas, as promessas, as mãos eclesiásticas e macias que provavelmente beijei, como que para pedir a benção, todo trêmulo e confuso, cheio de amor e de terror por esse intruso.

O outro, figura peregrina, com olhar profundo, mãos grossas e sujas, aroma doce de bálsamo disfarçando o odor fétido do corpo suado e do sangue derramado, porventura culpado de derramar muito sangue, sua face despida de qualquer beleza ou encanto, suas promessas desprovidas de qualquer sedução, diante do qual me postei de pé, como que insultado pela afronta da presença de tal moribundo, que despertava em minha memória vozes funestas que advertiam: carrega tua cruz!

E como eu não o fizesse, o desgraçado em afronta ainda maior tomou todo o jugo do meu fardo sobre seus próprios ombros. E pus-me a segui-lo.

Ou melhor, dispus-me a segui-lo, entretanto sem nunca tê-lo feito.

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Este texto faz alusão ao poema Painel, do português José Régio.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Você conversa com Deus? O que Ele lhe diz?

Deus tá me falando pra eu parar de responder perguntas bobas. As perguntas idiotas sobre Deus e o sexo dos anjos, enviadas por religiosos que não têm o que fazer, assim como por pseudoateus que acreditam mais em Deus do que os crentes, não serão mais respondidas até "segunda ordem" (ordens de Deus???)

Perguntaí

Quantos bits descrevem Deus?

Pergunta muito nerd pra mim. Tô passando...

Perguntaí

Se é pecador, então vai para o inferno?

Como eu posso saber? Não sou Deus.

Perguntaí

Você é pecador?

Caraca, as perguntas estão cada vez melhores... Claro que sou...

Perguntaí

terça-feira, 6 de abril de 2010

Orkontro Nacional da Igrejas Alternativas


Felipe esteve presente Espiritualmente dentro de um copo cerveja, todos nós podemos sentir isso em certo momento do encontro...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ser Cristão é...


Ser cristão é viver constantemente a sensação de ter chegado no fim da festa. É ter em suas mãos as cinzas de algo outrora glorioso. É ter a percepção do quanto destruíram um ideal maravilhoso; de que as palavras do Deus encarnado não significaram nada, e que Ele ainda é linchado e crucificado todos os dias pelos seus fiéis. É ter que se explicar diante do mundo, que vê o cristianismo como uma religião bélica e te interpreta como mais um dos seus ensandecidos seguidores. É ver dia após dia outros cristãos destruírem tudo o que você ama e valoriza - toda a reputação, toda a história, todos os ensinamentos do cristianismo com suas liturgias mortas, sua pregação televisiva e a busca incessante de cada cristão pelo próprio bem estar e conforto material.

Ser cristão é trabalhar em vão e ver o frutos das árvores más prosperarem. É congregar com outros cristãos mas ainda assim estar completamente sozinho, porque simplesmente ninguém se interessa pelo cristianismo. É ser ridicularizado pelos próprios cristãos ao propor que se siga o sermão da montanha de Jesus.

Ser cristão é saber que você nasceu num mundo onde é quase impossível ser plenamente cristão, onde cada bem de consumo tem uma macabra e obscura origem. É se defender contra seus inimigos mesmo contra sua própria vontade, através da força do Estado. É comer, vestir-se e trabalhar sabendo que suas mãos estão sujas de sangue de gente que pode estar do outro lado do planeta. É comer ovo de chocolate no feriado em comemoração pela morte do ídolo Jesus, ou participar de orgias e glutonarias no seu aniversário. É não ter a menor piedade de crianças que vivem como animais nas ruas, e mesmo assim denominar os não cristãos como ímpios. É ceder continuamente às tentações expostas por todas as mídias por toda a parte. É conseguir seguir um preceito cristão a cada nove preceitos cristãos violados. É lutar em vão contra os outros e contra você mesmo todos os dias.

Ser cristão é ter a plena consciência de que você não é cristão.

Acho que o mais próximo do cristianismo original a que podemos chegar hoje em dia, é odiar a igreja, os cristãos e a si próprio.