sábado, 9 de janeiro de 2010

Por Júlia Bárány Yaari

Veio como uma criança indefesa, outros dizem que é lenda.
Há dois mil anos falamos dele. Ele mudou o mundo e cada um de nós, mesmo que não tenhamos consciência disso.
É a figura histórica a respeito de quem mais se escreveu, mais se inquiriu. As divergências na compreensão de seus ensinamentos já existiam entre os próprios apóstolos, antes mesmo de sua partida. Embora suas palavras, registradas por seus seguidores conforme se lembravam delas no mínimo trinta anos depois de sua morte, sejam simples, transmitindo conceitos básicos repetidos de diversas formas, o entendimento não é fácil, pois supõe uma mudança interior.
Ele usou discurso direto com os mais íntimos, mas com o povo falava por parábolas, como se faz com criancinhas que aprendem por meio dos contos de fadas e histórias.
Os documentos históricos e os registros de seus ensinamentos passam periodicamente por depurações e reformulações, na busca da verdade. Diferentes grupos disputam o reconhecimento como detentores das palavras autênticas dele. Artistas têm procurado esta verdade por meio da música, da pintura, da escultura, da literatura, cada obra sendo uma interpretação pessoal do autor.
Cada um projeta o seu Jesus com as características que lhe dizem aquilo que deseja ouvir. Instalam-se os estereótipos. Manifestam-se os ideais, as aspirações, os anseios.
Passamos a duvidar se é possível chegar aos fatos incontestáveis sobre sua vida, descobrir as palavras que ele de fato proferiu. Se é possível escavar através de camadas e camadas de interpolações, interpretações, encobrimentos, descobrimentos, interesses mundanos, ou simplesmente da ignorância e fraqueza dos seres humanos que promoveram guerras e cometeram atrocidades em seu nome. Se é possível encontrá-lo livre dos dogmas, não engessado em instituições que manipulam as pessoas para firmar seu poder.
Onde encontrá-lo?
Cada um que procura o seu Jesus o encontra dentro de si mesmo.
E nessa multiplicidade de seres ele se esparrama como chuva de estrelas, cada uma com seu brilho próprio, feitas, no entanto, todas da mesma essência de luz. Qual é mais verdadeira que as outras? Na obra aberta, como é a obra de Jesus, a maravilha é que todas são verdadeiras.
(...)




Fonte: Prefácio de Júlia Bárány Yaari para Yeshuah.
FERREIRA, Laudo. Yeshuah: assim em cima assim embaixo. São Paulo: Devir, 2009.

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