Ser cristão é viver constantemente a sensação de ter chegado no fim da festa. É ter em suas mãos as cinzas de algo outrora glorioso. É ter a percepção do quanto destruíram um ideal maravilhoso; de que as palavras do Deus encarnado não significaram nada, e que Ele ainda é linchado e crucificado todos os dias pelos seus fiéis. É ter que se explicar diante do mundo, que vê o cristianismo como uma religião bélica e te interpreta como mais um dos seus ensandecidos seguidores. É ver dia após dia outros cristãos destruírem tudo o que você ama e valoriza - toda a reputação, toda a história, todos os ensinamentos do cristianismo com suas liturgias mortas, sua pregação televisiva e a busca incessante de cada cristão pelo próprio bem estar e conforto material.
Ser cristão é trabalhar em vão e ver o frutos das árvores más prosperarem. É congregar com outros cristãos mas ainda assim estar completamente sozinho, porque simplesmente ninguém se interessa pelo cristianismo. É ser ridicularizado pelos próprios cristãos ao propor que se siga o sermão da montanha de Jesus.
Ser cristão é saber que você nasceu num mundo onde é quase impossível ser plenamente cristão, onde cada bem de consumo tem uma macabra e obscura origem. É se defender contra seus inimigos mesmo contra sua própria vontade, através da força do Estado. É comer, vestir-se e trabalhar sabendo que suas mãos estão sujas de sangue de gente que pode estar do outro lado do planeta. É comer ovo de chocolate no feriado em comemoração pela morte do ídolo Jesus, ou participar de orgias e glutonarias no seu aniversário. É não ter a menor piedade de crianças que vivem como animais nas ruas, e mesmo assim denominar os não cristãos como ímpios. É ceder continuamente às tentações expostas por todas as mídias por toda a parte. É conseguir seguir um preceito cristão a cada nove preceitos cristãos violados. É lutar em vão contra os outros e contra você mesmo todos os dias.
Ser cristão é ter a plena consciência de que você não é cristão.
Acho que o mais próximo do cristianismo original a que podemos chegar hoje em dia, é odiar a igreja, os cristãos e a si próprio.
4 comentários:
Com todo respeito, Presbítero Felipoe, acho que é loucura esperar algo diferente.
O próprio mestre foi rejeitado pelos religiosos da época, e aceito pelos desmazelados num momento de oba-oba. Seus próprios alunos e irmãos ficaram escandalizados dele e desertaram logo que ele foi preso. Depois de morto, já estavam assumindo de volta a velha vida, pescando pelados. Não reconheceram Jesus ressurreto, mesmo durante uma caminhada de um dia.
Precisaram de um choque transcendental como a visão de um fantasma para crerem de fato e, momentos depois, após a descida do pentecostes, quando pensava-se que já se tinha acertado a veia, ainda tinham ciuminhos e atitudes contraditórias, repreendidas até por um fariseu.
Só lamentos... ainda mais nós: Nos fim dos tempos, quando a iniquidade de multiplicou, o amor já se esfriou e as dores começaram. Nossa tradição (que não viu Jesus) se auto denomina apóstola, e quando sinceramente confessa não o enxergar, idolátra uma Imagem de um Deus ao invés de crê-lo.
Felizmente a palavra permanece. João 3.16 ainda está lá, e ainda são bem aventurados os que não viram e creram. Paulo falou em Romanos 8.18 que esperava que as coisas fossem menos difíceis por conta do sofrimento pelo qual eles passavam. Do outro lado, Pedro (I 4.17.) sacava que o julgamento já estava rolando e começava pela igreja.
Para nós, a perseguição assumiu outras formas. Em tudo somos atribulados se tentamos seguir a Cristo. Queixamos-nos das nossas próprias falhas e dificuldades de trilhar o caminho estreito, enquanto estamos sendo iludidos e arrastados no caminho largo.
Não é a toa que rola a sensação que estamos no inferno, ou que o Noivo já buscou sua esposa, de que fomos abandonados. Aliás, deve ter sido o mesmo sentimento, numa proporção infinitamente maior, o que Cristo engoliu enquanto se encarregou dos nossos pecados e pagou nossa salvação.
Isso tudo deve ser normal. Se somos participantes da Gloria, devemos esperar as mesmas tribulações. Enquanto isso, a Graça superabundante nos basta.
Quem escreveu isso?
Foi o FELIPOE.
Tirando a última frase o texto é muito bom!
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