"Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos." Ef.1:20-23
Não sei porque, mas hoje de manhã vim pro serviço pensando na mitologia criada pelo cineasta americano George Lucas “Star Wars” (conhecido pelos mais velhos simplesmente como Guerra nas Estrelas).
Para quem não tem muita familiaridade com o tema, Star Wars diz respeito a uma série de filmes, desenhos animados, livros, revistas em quadrinhos, jogos de videogame (sim, tudo se interliga e se completa de certa forma) de uma espécie de gênero que poderia ser chamado de “fantasia espacial” em que mundos se dividem entre Império Galático e resistência rebelde, onde o Império é dominado pelas forças do “lado negro” (ou “lado escuro”, na nova tradução politicamente correta de “dark side”) e a resistência rebelde tenta restaurar a ordem da República Galática de antes de o Império dominar o Universo.
Há um combustível que supre os guerreiros, seres, enfim, todos os personagens do universo Star Wars: a Força. Segundo o personagem Obi Wan Kenobi, a força é “um campo de energia criado por tudo o que vive. Rodeia-nos, penetra-nos e une a galáxia”. Tanto os mocinhos (Jedis) como os bandidos (Siths) procuram atingir um patamar superior de existência, mas ambos tem filosofias bem distintas para tal:
“There is no emotion, there is peace.” - Não existe emoção, existe paz.
“There is no ignorance, there is knowledge.” - Não existe ignorância, existe conhecimento.
“There is no passion, there is serenity.” - Não existe paixão, existe serenidade.
“There is no death, there is the Force.” - Não existe morte, existe a Força.
“Peace is a lie, there is only passion.” - Paz é uma mentira, só existe paixão.
“Through passion, I gain strength.” - Através da paixão, ganho Força.
“Through strength, I gain power.” - Através da Força, ganho poder.
“Through power, I gain victory.” - Através do poder, atinjo a vitória.
“Through victory, my chains are broken.” - Através da vitória, as minhas correntes são quebradas.
“The Force shall free me.” - Assim, a Força me libertará.
Podemos ver que ambos os lados são atraídos pela mesma energia imanente, e essa energia pode transformar um homem tanto em mal como em bom. É possível observar também que ao filosofia “sombria” (dos Siths) é uma corruptela, ou um exagero, da filosofia “iluminada” (dos Jedis). Logo, o que é razão e temperança no lado luminoso, é um exagero e uma perversão do lado negro. Procuram o mesmo fim, mas com meio diferentes: o bem-estar.
Ora, no mundo “normal” acontece a mesma coisa.
Sempre estamos procurando por algo que nos satisfaça, que nos dê bem-estar, a nós e àqueles que estão conosco. Porém, como na série de George Lucas, as pessoas escolhem formas diferentes de alcançar seus objetivos, e acabam até mesmo pervertendo, do ponto de vista do cristianismo, o resultado de suas buscas.
Assim podemos analisar, por exemplo, os pecados humanos. Para se ter um parâmetro possível de comparação, vou usar a lista de 7 pecados capitais segundo S. Tomás de Aquino. É óbvio que nossos pecados não se resumem a 7, mas eu acho essa “matriz de pecados” interessante por ser bem abrangente, podendo se desdobrar em quase todos os demais pecados. Os sete pecados são os seguintes:
Vaidade;
Inveja;
Ira;
Preguiça;
Avareza;
Gula;
Luxúria.
A partir da análise dos 7 pecados, é possível concluir que eles são deturpações das necessidades do ser humano. Assim, a Vaidade seria um exagero da necessidade de bem-estar físico. Paulo diz que devemos cuidar do nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo, mas quando passamos a dar mais importância ao nosso corpo do que às demais pessoas ou coisas da vida, passamos a se egoístas. A Inveja seria uma desejo exagerado de ter as coisas, fazendo-nos cobiçar aquilo que não é nosso e sentir raiva de quem tem aquilo. A Ira acontece quando deixamos as magoas tomarem conta do nosso coração. Nesse caso, porém gostaria de fazer uma ressalva: essa “Ira” seria uma raiva exagerada que nos leva a pecar contra os outros. Jesus mesmo disse: “Irai e não pequeis, não deixeis que o Sol se ponha sobre a vossa ira”, ou seja, muitas vezes ficamos nervosos, mas não podemos deixar aquilo corroer nosso corpo como um câncer: é resolver os problemas e nunca deixar para depois aquela “treta” de agora.
Continuando, a Preguiça seria um exagero da necessidade de descansar; a Avareza está ligada ao nosso desejo de ter sem precisar: somos levados a poupar e a sempre querer mais sem muitas vezes necessitar disso, e colocamos nossa confiança no dinheiro, o que é perigoso; a Gula é a perversão da necessidade de se alimentar; e por último a Luxúria, que é a perversão da necessidade do prazer físico.
Mas o que isso tem a ver com Star Wars, Jedis, Sith, bem e mal, Deus e o Diabo?
Bem, como disse, vim pensando em todas essas coisas no caminho para o serviço. Cheguei à conclusão que Deus e o Diabo, o Bem e o Mal, não estão tão em lados opostos, não assim, metodicamente um puxando para um lado e ou outro para o outro lado, como que num cabo de guerra transcendental. Os dois, na verdade, puxam o ser humano para o mesmo lado, o lado da satisfação e da ascensão. Porém, como entre Jedis e Sith, o Lado Iluminado e o Lado Negro, Deus estaria nos ensinando a sermos elevados pelo caminho da temperança, mas o Diabo estaria nos levando a acreditar que a satisfação está na satisfação mais que plena das nossas necessidades.
Isso fica muito claro quando observamos que cada vez mais pessoas hoje em dia estão cada vez mais egoísta e doentes por procurarem a satisfação e a alegria. Cada vez mais temos pessoas mesquinhas, depressivas, fisicamente doentes por buscarem ter mais do que necessitam, ou por irem muito rapidamente atrás daquilo que almejam. E esse tipo de coisa não acontece só no que os cristãos chamam de “mundo”: dentro da Igreja vemos cada vez mais pessoas passando para o Lado Negro da Força por buscarem de forma desenfreada a elevação espiritual. São pessoas doentes espiritualmente, exageradas na forma de louvar, de se expressar, e que mais cedo ou mais tarde se tornam malucos e morrem por não terem tido o bom senso de buscarem tudo ao seu tempo, seja por sua própria vontade ou pela falta de instrução.
E isso não é apenas no nível espiritual. Podemos ver isso no que diz respeito ao material nas Igrejas: pastores que começaram com a maior das boas vontades, e que recolhiam dinheiro “para a obra”, mas que hoje são crápulas e ladrões.
Assim como é impossível perceber o momento exato em que o dia começa a escurecer e é muito difícil dizer quantas gotas de água faltam para transbordar um copo, também é muito difícil dizer quando estamos passando do limite, passando da plenitude iluminada para o exagero negro em nossas vidas.
O Mal seduz. Assim como os Jedis de Star Wars, temos que vigiar sempre, nos controlando para que a Força que há em nós não faça com que passemos de luz às trevas como num piscar de olhos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Star_Wars
- "Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho." Mt.8:4
- "E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho." Mc.1:44
- "E mandou-o para sua casa, dizendo: Nem entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia." Mc.8:26
- "Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus." Lc.18:19
- "E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus." Mt.19:17
- "...um espírito imundo o qual exclamou, dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele."
Ontem (sábado – 4/10/09) fiz algo que não faço há muito tempo: fui à casa dos meus tios Zé e Cida (todo mundo tem um ou mais tios Zé e Cida, rsrsrs). O tio Zé é irmão da minha mãe. A tia Cida é a esposa dele.
Fazia mais ou menos uns 15 anos que eu não os visitava. Foi uma visita legal, pois gosto muito deles e lembro de ter passado momentos muito bons na casa deles. Foi um dia muito bom. Chegamos, tomamos um café, almoçamos, viemos embora, eu e a Sandra – minha esposa. Entre uma refeição e outra, conversamos sobre a vida, falamos de coisas do passado, e de coisas que o futuro nos reserva.
Tá. E por quê eu estou falando dessa visita aparentemente típica? O que você, que está lendo, tem a ver com essa história chata de visita aos tios?
Talvez a percepção sobre a minha história mude se eu contar pra vocês duas peculiaridades dos meus tios: eles são velhos (meu tio tem mais de 80 anos) e são evangélicos. E isso, durante um bate-papo descompromissado entre parentes, faz TODA a diferença…
Entre conversa-vai, conversa-vem, acabamos caindo no assunto “Deus”. É impossível conversar sem falar de Deus, ainda mais quando se sente à vontade para falar dEle. Aí nós contamos as “bênçãos”, falamos de ministério, etc. Porém durante toda a conversa ficou evidente o abismo que separa o evangélico tradicional de um “cristão alternativo”. A todo momento eles queriam saber de que “igreja” nós éramos. Sempre que falávamos uma “bênção”, um momento de alegria, algo que fizemos dentro de alguma igreja, alguma pregação, evento, etc., eles nos perguntavam “é de igreja tal???” E eu simplesmente respondia com um “não”. E eu percebia que sempre ficava aquele sentimento de “eles não são tão evangélicos assim”, rsrsrs…
Algumas vezes, percebia a confusão total, pois conheço muita coisa da Assembléia de Deus, por exemplo, hinos, peculiaridades das reuniões, “doutrinas”. Isso devido ao fato de ter muitos amigos naquela denominação. Isso deixava meu tio pensando “ele parece assembleiano, mas também parece que não é”.
Percebi, enfim, que eles, meus tios, são extremamente evangélicos no sentido de defenderem a bandeira de sua denominação, ou, no mínimo, da sua filosofia (embora não tenham consciência de que estejam defendendo uma filosofia). E esse tradicionalismo se acentua por serem velhos e defenderem o que é tradicional, aquele negócio de que “antigamente era melhor.
Porém, por incrível que pareça, esse comportamento não é algo incomum. Não acontece só entre evangélicos e nem somente entre pessoas mais velhas.
Hoje, existem muitas pessoas que defendem o “evangelicalismo” como se fosse um time de futebol. Pessoas que brigam, choram, gritam e até chegam a bater para defender o “ser evangélico”, defender sua bandeira congregacional. Muita gente não se toca, mais isso é uma das maiores evidências da invasão do “mundo” dentro da Igreja. A igreja se acostumos a defender seus ideais como se estivesse defendendo um time político, um partido ou uma filosofia. E olha que isso não é algo novo, não. O apóstolo Paulo, segundo a Bíblia, lidava com isso já na sua época. Cristãos vivam se perguntando qual era o apóstolo mais correto, e defendiam suas filosofias com unhas e dentes. “Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo”, e Paulo explica que um planta, o outro rega, mas quem faz crescer é Deus.
É óbvio que você deve estar dizendo “mas eu tô livre de tudo isso, graças a Deus, eu sou ALTERNATIVO!” Porém ,pense aí: quantas vezes você já não disse que não aguenta, não gosta e nem consegue conversar com “evangélicos”? Quantas vezes você, com ar de superioridade, já não se gabou, aí dentro da sua cabeça mesmo, dando “graças a Deus”, de não ser mais evangélico? Vou mais além: quantas vezes você já não pensou ser melhor do que os evangélicos, pois Deus lhe deu um entendimento “superior” em relação aos demais cristãos?
Quando adolescente, ainda sendo evangélico, embora fosse de uma igreja “underground”, passei por sentimentos como esse. Eu me sentia “a nata” dos evangélicos, a evolução, o “homo sapiens superior” (como diriam professor Xavier e Magneto) do cristianismo, pois não precisava de terno, gravata, hinários antigos, e dos ritualismos dos evangélicos tradicionais. Porém aos poucos percebi que eu, e mais alguns, estávamos criando um gueto dentro do gueto. Estávamos nos tornando “fariseus dentre os fariseus”.
Hoje, vejo que muito cristão que se considera alternativo passa por isso. Devagar, vamos nos fechando dentro de um mundinho dentro do mundinho dos evangélicos, vamos nos distanciando do mundo cristão, e nos tornando uma aberração pior do que aquilo que consideramos estranho.
Olhem que não estou aqui pregando que devemos nos conformar com as cagadas que evangélicos, católicos, ortodoxos, ou até nós mesmos, fazemos, tudo em prol da “união cristã”. É claro que devemos estar espertos para todo tipo de enganação e manipulação, mas o que digo é que não devemos nos sentir melhor do que ninguém, porque, se Jesus é a verdade, nós somos seguidores da verdade, e só a encontraremos de verdade quando chegarmos ao Céu, Paraíso, Nova Existência, Pós-morte, ou seja lá como chamam o período de vida após a vida.
“Hoje enxergo pelo espelho” dizia o apóstolo Paulo, exemplificando que hoje, indiferentemente de nosso grau de instrução, revelação ou comprometimento com o Evangelho, todos padecemos de uma miopia espiritual, e dependemos de Deus para conhecer aos outros, conhecermos a nós mesmos e conhecer a Ele. “Mas um dia vou enxergar claramente”, é Paulo tentando nos dizer que um dia, quando toda a aparência cair e esse mundo passar, passaremos a compreender as coisas de Deus de forma completa. Até lá somos todos cegos caminhando pela mesma estrada, dando de cabeça na parede, revoltando-nos e sendo trazidos de volta à razão por Deus. Somos como crianças que, não importa a idade, precisamos da mão do pai para nos guiar.
Que possamos nos colocar no nosso lugar, e possamos ter a humildade de assumir nossa ignorância em relação a Deus, e assumir nossa posição de loucos, nem melhores e nem piores, dentro desse grande manicômio que é o cristianismo, todos necessitando igualmente do Médico dos Médicos.